Especialistas temem repetição do padrão de 2021, quando manobras militares antecederam a invasão da Ucrânia

A Rússia anunciou a realização dos exercícios militares Zapad 2025, programados para setembro deste ano na fronteira com a Polônia. O anúncio reacendeu preocupações entre as agências de inteligência europeias, especialmente após o precedente de 2021, quando manobras similares precederam a invasão da Ucrânia apenas cinco meses depois.

Confira nossa análise em vídeo:

“Zapad”, que significa “Oeste” em russo, são grandes treinamentos militares conjuntos entre Rússia e Bielorrússia realizados a cada dois anos na região oeste dos dois países, justamente na fronteira com nações europeias membros da OTAN.

Histórico preocupante

Os últimos exercícios Zapad ocorreram em setembro de 2021, mobilizando aproximadamente 200 mil soldados, quase 300 tanques, 760 peças de equipamento militar e 15 navios durante cinco dias. Na época, o governo bielorrusso declarou que os exercícios eram “puramente defensivos” e não representavam “nenhuma ameaça para a comunidade europeia”.

Contudo, poucos meses após essas manobras “defensivas”, a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022. Muitos dos soldados e equipamentos utilizados na invasão foram os mesmos que participaram do Zapad 2021, e uma das principais rotas de invasão partiu justamente da Bielorrússia, onde as tropas permaneceram após os exercícios.

Detalhes dos exercícios de 2025

A primeira informação oficial sobre o Zapad 2025 foi divulgada em 20 de fevereiro pela agência de notícias bielorrussa Belta. O Ministro de Cooperação Militar Internacional da Bielorrússia, Valery Revenko, revelou que os exercícios acontecerão em meados de setembro, envolvendo oficialmente mais de 13 mil pessoas.

Especialistas ocidentais, no entanto, consideram esse número subestimado, estimando que a participação real possa chegar a 100 mil soldados ou mais, seguindo o padrão dos exercícios anteriores.

Em abril, o presidente bielorrusso Aleksandr Lukashenko forneceu mais detalhes sobre as manobras. “Mesmo com uma guerra em andamento, mesmo com a operação militar especial da Rússia acontecendo, o presidente Putin e eu concordamos que precisamos olhar para o futuro e considerar outras direções e possíveis teatros de guerra”, declarou Lukashenko.

Sinais de alerta da inteligência internacional

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky alertou durante a conferência de segurança de Munique que exercícios dessa magnitude poderiam ser preparação para novos ataques russos. “Olhem para a Bielorrússia — neste verão, a Rússia está preparando algo lá disfarçado de exercícios militares”, afirmou.

Os Serviços de Inteligência de Defesa da Dinamarca concluíram em relatório de fevereiro que a Rússia poderia ter oportunidade de iniciar uma guerra em grande escala contra a Europa a qualquer momento nos próximos cinco anos. “A Rússia se vê em conflito com o Ocidente e está se preparando para uma guerra contra a OTAN”, aponta o documento.

Expansão militar russa

Além dos exercícios Zapad, a Rússia está fortalecendo posições próximas às fronteiras da OTAN. Segundo o Wall Street Journal, engenheiros militares russos trabalham para expandir bases em Petrozavodsk, a cerca de 160 quilômetros da fronteira com a Finlândia, com planos para um novo quartel-general capaz de treinar dezenas de milhares de tropas.

O país também intensificou campanhas de recrutamento, oferecendo bônus de até US$ 20 mil para novos alistados. Estima-se que entre 30 mil e 40 mil russos se inscrevam mensalmente no exército. Os gastos militares russos saltaram de 3,6% do PIB antes da guerra para mais de 6% atualmente.

O general Christopher Cavoli, comandante das forças americanas na Europa, observa que “o exército russo está se reconstruindo e crescendo mais rapidamente do que a maioria dos analistas havia previsto”.

Resposta ocidental

A OTAN não permanece passiva diante das movimentações russas. Os ministros das Relações Exteriores da aliança trabalham em planos para aumentar a meta de gastos com defesa dos atuais 2% do PIB para 2,5% até 2030.

A Polônia, país diretamente afetado pela proximidade dos exercícios, anunciou que realizará suas próprias manobras militares em resposta. O Ministro da Defesa polonês, Cezary Tomczyk, declarou que o país “responderá de maneira apropriada” tanto como exército nacional quanto como membro da OTAN.

A Polônia aumentou seus gastos com defesa para 4,7% do PIB, o maior aumento relativo entre todas as nações da OTAN. No ano passado, o país sediou os exercícios Steadfast Defender 24, que reuniram cerca de 100 mil soldados em uma das maiores manobras da história da aliança.

Tensão crescente

A menção de Lukashenko sobre “possíveis teatros de guerra” soma-se ao histórico recente para intensificar as preocupações europeias. As agências de inteligência estão em alerta máximo, enquanto a OTAN fortalece sua presença na região.

A grande incógnita permanece: os exercícios Zapad 2025 representam apenas uma demonstração de força para intimidar o Ocidente, ou constituem preparação para uma expansão do conflito além da Ucrânia? A resposta pode se tornar clara nos próximos meses, enquanto Europa e Rússia se preparam para o que pode ser um dos momentos mais tensos desde o início da guerra na Ucrânia.