Estrutura estratégica de Putin na região é alvo constante de operações ucranianas desde 2022

Na madrugada de 3 de junho de 2025, às 4h44, uma explosão equivalente a 1.100 quilos de TNT atingiu as fundações da Ponte da Crimeia, a estrutura mais protegida da Rússia. Este foi o terceiro ataque bem-sucedido contra o projeto pessoal do presidente Vladimir Putin em menos de três anos de guerra.

Uma ponte sobre território disputado

A Ponte da Crimeia sempre foi considerada um projeto quase impossível. Com 19 quilômetros de extensão, ela atravessa o Estreito de Kerch, uma das regiões mais complicadas do mundo para construção. O local possui uma falha tectônica ativa, 70 vulcões de lama nas proximidades e um fundo marinho com 60 metros de lama antes de chegar à rocha sólida.

A região tem uma história de tentativas fracassadas. Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1943, os alemães tentaram construir uma ponte, mas nunca terminaram o projeto. Em 1944, os soviéticos conseguiram construir uma ponte ferroviária, que desabou no ano seguinte devido ao gelo do inverno.

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O projeto de Putin

Em 2014, após a anexação da Crimeia, Putin transformou a construção da ponte em uma obsessão pessoal. O projeto custou 3,7 bilhões de dólares e envolveu a instalação de mais de 7.000 estacas cravadas até 90 metros de profundidade. Algumas estacas foram propositalmente colocadas em ângulo para resistir a terremotos.

A ponte rodoviária foi inaugurada pelo próprio Putin em maio de 2018, seguida pela parte ferroviária em dezembro de 2019. Com seus 19 quilômetros, tornou-se a ponte mais longa da Europa.

Para a Rússia, esta é a única ligação terrestre direta com a Crimeia. Mais do que infraestrutura, a ponte representa um símbolo da anexação russa da península.

Série de ataques ucranianos

Primeiro ataque – outubro de 2022

O primeiro ataque ucraniano utilizou um método simples: um caminhão carregado de explosivos. A explosão foi tão intensa que atingiu tanques de combustível de um trem que passava próximo, criando uma grande bola de fogo. Parte da pista foi destruída e caiu no mar, resultando na morte de três a cinco pessoas.

Segundo ataque – julho de 2023

Dez meses depois, a Ucrânia atacou novamente, desta vez usando drones aquáticos. O drone “Sea Baby”, de seis metros de comprimento, pode navegar a 49 nós (mais rápido que muitos navios militares) e carregar até 850 quilos de explosivos. O ataque resultou na morte de duas pessoas.

Terceiro ataque – junho de 2025

O ataque mais recente foi diferente dos anteriores. Explosivos foram colocados secretamente nas fundações da ponte, no fundo do mar, em uma operação que levou meses para ser planejada. A explosão às 4h44 da manhã danificou gravemente os pilares submersos, segundo o Serviço de Segurança da Ucrânia.

Defesas crescentes

Após cada ataque, a Rússia intensificou as defesas da ponte. Atualmente, a estrutura é protegida por:

  • Barcaças afundadas formando barreiras
  • Redes anti-mergulhador em várias camadas
  • Sistemas de sonar para detectar aproximações
  • Helicópteros anti-submarino em patrulha constante
  • Sistemas de mísseis S-400 e S-500

Especialistas americanos consideram que os russos tomaram “medidas extraordinárias” para proteger a ponte, transformando-a em uma das estruturas mais defendidas do mundo.

Escalada do conflito

O terceiro ataque à ponte fez parte de uma semana de operações intensas. Dois dias antes, em 1º de junho, a Ucrânia realizou a “Operação Teia de Aranha”, atacando simultaneamente quatro bases aéreas russas com mais de 100 drones. Segundo fontes ucranianas, mais de 40 aviões de guerra russos foram destruídos ou danificados.

A Rússia respondeu com ataques a civis na cidade ucraniana de Sumy, matando pelo menos quatro pessoas e ferindo 25, incluindo crianças.

O dilema do defensor

A situação ilustra o que especialistas militares chamam de “dilema do defensor”. A Rússia precisa proteger 19 quilômetros de ponte contra todos os tipos de ataque possíveis, enquanto a Ucrânia precisa apenas encontrar uma forma eficaz de penetrar as defesas.

Cada ataque força a Rússia a gastar mais recursos em defesa, desviando fundos e equipamentos de outras frentes da guerra. Para a Ucrânia, cada ataque bem-sucedido representa uma vitória estratégica múltipla: atrapalha a logística russa, afeta o moral inimigo e reafirma suas reivindicações sobre a Crimeia.

Importância estratégica

Para a Rússia, a ponte é fundamental tanto militar quanto simbolicamente. Ela serve como principal rota de abastecimento para as tropas russas no sul da Ucrânia. Sua perda representaria um golpe significativo nas operações militares russas na região e no prestígio de Putin.

A ponte da Crimeia continua sendo um dos pontos mais sensíveis do conflito, simbolizando tanto as ambições russas quanto a resistência ucraniana. Enquanto a estrutura existir, ela provavelmente continuará sendo alvo de ataques, mantendo-se como um símbolo da vulnerabilidade russa em território disputado.