Taurus KEPD-350 representa mudança estratégica no conflito ucraniano com capacidade de atingir símbolo da anexação russa
A mudança de governo na Alemanha pode alterar significativamente o rumo da guerra na Ucrânia. Com a vitória do partido CDU nas eleições de fevereiro de 2025 e a posse de Friedrich Merz como chanceler, cresce a possibilidade de que a Alemanha forneça à Ucrânia um dos mísseis mais avançados de seu arsenal: o Taurus KEPD-350.
Confira nossa análise em vídeo:
O míssil, que custa aproximadamente 1,4 milhão de euros, tem capacidade técnica para destruir a Ponte da Crimeia, projeto estimado de Putin que custou 3,7 bilhões de dólares e representa um dos principais símbolos da anexação russa da península.
A importância estratégica da Ponte da Crimeia
Inaugurada pessoalmente por Vladimir Putin em 2018, a ponte não é apenas uma via de transporte, mas sim a principal artéria que mantém as forças russas na Crimeia abastecidas e reforçadas. Dados da inteligência ucraniana indicam que aproximadamente 75% dos suprimentos militares russos para a Crimeia e o sul da Ucrânia passam por este corredor único.
Sem esta ponte, os cerca de 32 mil soldados russos na península ficariam praticamente isolados, com suas rotas de suprimento severamente comprometidas. As rotas marítimas alternativas pelo Mar Negro tornaram-se progressivamente mais perigosas desde 2022, quando os ucranianos realizaram pelo menos 24 ataques confirmados contra navios russos, incluindo o afundamento do cruzador Moskva, navio-símbolo da frota russa.
Capacidades técnicas do Taurus
Desenvolvido em conjunto por Alemanha e Suécia, o Taurus KEPD-350 representa o que há de mais avançado em tecnologia de ataque de precisão. Suas características técnicas incluem:
Alcance superior: Com aproximadamente 500 quilômetros de alcance, supera significativamente os mísseis ATACMS americanos (160 km) e os Storm Shadow britânicos (250 km). Esse alcance permitiria à Ucrânia atingir qualquer ponto da Crimeia mantendo suas aeronaves fora do alcance das defesas antiaéreas russas.
Sistema de destruição avançado: A ogiva MEPHISTO de 480 quilos utiliza uma “carga explosiva tandem” – um sistema que emprega duas explosões sequenciais. A primeira carga rompe as camadas externas de proteção, permitindo que o míssil penetre profundamente na estrutura antes da explosão principal, causando danos de dentro para fora.
Precisão cirúrgica: Em testes, metade dos mísseis atingiu alvos com erro máximo de apenas três metros, praticamente garantindo acerto em uma estrutura do tamanho da Ponte da Crimeia.
Capacidade furtiva: O míssil voa a apenas 30 metros do solo ou da água, tornando-se virtualmente invisível aos radares até momentos antes do impacto.
Obstáculos políticos e mudanças recentes
Durante o governo de Olaf Scholz, a Alemanha manteve hesitação em fornecer o Taurus, baseada em três preocupações principais:
- Medo de escalada: Permitir ataques profundos em território considerado russo poderia provocar reação mais agressiva de Putin
- Dúvidas sobre eficácia: Questionamentos sobre a capacidade da limitada força aérea ucraniana de operar o sistema
- Restrições de uso: Até o final de 2024, a Ucrânia não tinha autorização para usar armamentos doados fora de suas fronteiras
A mudança de liderança com Friedrich Merz, que criticou a hesitação de seu antecessor, sinaliza possível alteração nesta posição. Merz tem demonstrado maior disposição para apoio militar direto à Ucrânia.
Defesas russas e contramedidas
A Crimeia está protegida por sistemas avançados de defesa aérea, incluindo os S-400, considerados entre os melhores do mundo, com alcance de detecção de 300 quilômetros e engajamento de 240 quilômetros. Além disso, a Rússia emprega sistemas Pantsir S-1 para defesa de curto alcance e capacidades de guerra eletrônica.
No entanto, o Taurus possui características que dificultam sua interceptação:
- Voo extremamente baixo, dificultando detecção por radar
- Múltiplos sistemas de navegação (GPS, inercial, por imagem e referência de terreno)
- Capacidade de manter curso mesmo com interferência eletrônica
Adicionalmente, a Ucrânia tem sistematicamente degradado a rede de defesa aérea russa. Estimativas indicam que a Rússia perdeu cerca de 24 radares de alto valor e 17 centros de comando até o final de 2024.
Implicações estratégicas
Um ataque bem-sucedido à Ponte da Crimeia teria consequências imediatas e de longo prazo:
Impacto logístico: Crise imediata no abastecimento das forças russas na Crimeia, com escassez de combustível, munição e suprimentos básicos.
Efeito psicológico: Destruição de um símbolo do poder de Putin e da anexação “bem-sucedida” da Crimeia, impactando o moral russo e fortalecendo o ucraniano.
Vantagem estratégica: Abertura de caminho para futura ofensiva ucraniana visando recuperar a península, com forças russas mais vulneráveis devido à dificuldade de reforços.
Contexto geopolítico mais amplo
Para a Alemanha, fornecer o Taurus representa não apenas uma decisão militar, mas uma mudança significativa em sua postura pacifista tradicional desde a Segunda Guerra Mundial. A invasão russa já levou o país a repensar fundamentalmente sua política de defesa, atingindo pela primeira vez a meta de gastos militares da OTAN (2% do PIB) em 2024.
A decisão do novo chanceler Merz será observada como indicador da disposição europeia em escaldar o apoio militar à Ucrânia, mesmo diante dos riscos de escalada do conflito. A questão central permanece: o que representa maior risco à segurança europeia – fornecer armamentos avançados ou permitir que a agressão russa seja bem-sucedida?
O míssil Taurus exemplifica como tecnologia de precisão pode alterar fundamentalmente o equilíbrio de poder em conflitos modernos, oferecendo capacidade de neutralizar vantagens estratégicas que custaram bilhões para serem construídas.