Sistema RapidDestroyer promete revolucionar defesa aérea com custo 250 mil vezes menor que métodos tradicionais

A Grã-Bretanha concluiu testes de uma nova tecnologia militar que pode transformar significativamente a guerra de drones. O sistema RapidDestroyer, desenvolvido em parceria entre a empresa francesa Thales e laboratórios de defesa britânicos, utiliza micro-ondas de alta potência para destruir equipamentos eletrônicos de drones a distância.

Como funciona a tecnologia

O RapidDestroyer gera pulsos de mais de 100 megawatts de potência – cerca de 150 mil vezes mais energia que um forno de micro-ondas doméstico. O sistema detecta drones com radar de precisão, aponta com câmeras ópticas e dispara rajadas de micro-ondas entre 500 megahertz e 3 gigahertz.

Essas ondas penetram no plástico e metal dos drones, induzindo correntes elétricas que queimam chips e componentes eletrônicos. O resultado é uma falha instantânea que faz o drone cair em questão de milissegundos.

Confira nossa análise em vídeo:

Vantagem econômica significativa

O aspecto mais notável do sistema é seu custo operacional. Enquanto um drone Shahed russo custa cerca de US$ 35 mil para produzir, o RapidDestroyer pode derrubá-lo gastando apenas 60 centavos em energia elétrica.

A diferença fica ainda mais evidente quando comparado com mísseis interceptadores tradicionais, que custam entre US$ 50 mil e US$ 150 mil cada. Para derrubar um enxame de 100 drones, o método tradicional custaria até US$ 15 milhões, enquanto o RapidDestroyer realizaria o mesmo trabalho por aproximadamente US$ 10.

Contexto da guerra de drones

Os números da guerra na Ucrânia mostram a crescente importância dos drones no conflito. A Rússia realizou 2.600 ataques de drones em 2022, 4.700 em 2023 e 13.800 em 2024 – uma média de mais de 37 ataques diários.

Soldados ucranianos relatam que drones são responsáveis por 70% de todas as mortes e ferimentos no campo de batalha. A Rússia construiu uma fábrica na Zona Econômia Especial de Alabuga capaz de produzir mais de 6 mil drones Shahed por ano, em acordo de US$ 1,7 bilhão com o Irã.

Resultados dos testes

Durante exercícios em West Wales, soldados britânicos usaram o RapidDestroyer para derrubar mais de 100 drones em simulações de ataques em enxame. O sistema conseguiu neutralizar alvos a distâncias de até um quilômetro, com operadores conseguindo rastrear e destruir grupos de dois ou três drones simultaneamente.

O Sargento Mayers, do 106º Regimento de Artilharia Real, avaliou o sistema como “rápido de aprender e fácil de operar”, indicando que soldados treinados em sistemas convencionais podem dominar a tecnologia rapidamente.

Especificações técnicas

O RapidDestroyer é montado em caminhão militar 4×4, garantindo mobilidade. Integra três componentes principais:

  • Radar de vigilância para detectar alvos pequenos em alta velocidade
  • Câmeras ópticas para identificação visual precisa
  • Emissor de micro-ondas com antena retangular branca

O operador identifica alvos na tela, aponta o sistema e dispara. As micro-ondas viajam na velocidade da luz (300 milhões de metros por segundo), não havendo tempo de voo como nos mísseis.

Vantagens sobre outras tecnologias

Diferentemente dos lasers de alta energia, que atacam um drone por vez e são ineficazes em condições climáticas adversas (nuvens, neblina, chuva), as micro-ondas atravessam essas condições e podem neutralizar múltiplos alvos simultaneamente devido ao feixe amplo.

Desenvolvimento internacional

A tecnologia não é exclusiva britânica. A China já exibe sistemas similares em feiras militares – os Hurricane 2000 e Hurricane 3000. A Rússia alega ter o sistema Ranets-E, supostamente capaz de desativar drones a 10 quilômetros de distância.

Os Estados Unidos testam o sistema THOR e integram tecnologia similar em veículos Stryker. A OTAN iniciou programas de cooperação em armas de energia dirigida.

Limitações e desafios

O sistema apresenta algumas limitações:

  • Alcance atual de apenas um quilômetro
  • Alto consumo de energia, podendo precisar de pausas para resfriamento
  • Não discrimina alvos, podendo afetar equipamentos eletrônicos aliados na área
  • Eficácia reduzida em tempestades muito intensas

Implicações estratégicas

Especialistas militares prevêem que sistemas de micro-ondas de alta potência estarão disponíveis comercialmente até 2027. Países como Israel, Taiwan e nações do Golfo Pérsico, que enfrentam ameaças regulares de drones, são considerados compradores potenciais.

Há preocupações sobre o uso da tecnologia por grupos terroristas, que poderiam utilizá-la para desativar sistemas de controle de tráfego aéreo ou redes de comunicação. Por isso, especialistas já desenvolvem protocolos para controlar a exportação dessa tecnologia.

Perspectivas futuras

O desenvolvimento representa um marco na evolução militar, comparável à invenção da pólvora ou dos primeiros tanques. A questão não é se essa tecnologia mudará a guerra moderna, mas quando e como essa transição ocorrerá.

Para a Ucrânia, o acesso a essa tecnologia nos próximos anos poderia neutralizar a vantagem aérea russa em drones, potencialmente alterando o equilíbrio do conflito.