Escalada militar no Estreito de Taiwan preocupa comunidade internacional

O Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, fez um alerta contundente durante encontro militar em Singapura: uma invasão chinesa a Taiwan pode ser iminente. Segundo o oficial americano, a China não está apenas fortalecendo suas forças militares, mas treinando ativamente para invadir Taiwan todos os dias.

Números mostram escalada da tensão

Os dados revelam um cenário preocupante no Estreito de Taiwan. Desde 2021, a China mais que triplicou suas incursões aéreas sobre Taiwan. Em 2024, foram registrados 3.615 voos militares chineses na região, mais que o dobro do ano anterior.

O pico da intimidação ocorreu em outubro de 2024, quando 153 aviões militares chineses circularam Taiwan em um único dia, estabelecendo um novo recorde. Apenas nos primeiros dois meses de 2025, a China já realizou 739 voos na zona de defesa aérea taiwanesa.

China nega acusações

A resposta de Pequim foi imediata. O Ministério das Relações Exteriores chinês acusou Hegseth de tentar semear divisão na Ásia, afirmando que o discurso estava “cheio de provocações e era factualmente impreciso”. Até mesmo o Vice-Presidente da Universidade de Defesa Nacional da China acusou o secretário americano de mentir.

Exercícios militares revelam nova estratégia

Em abril de 2025, a China conduziu o exercício “Trovão do Estreito”, mobilizando 135 aeronaves, 38 navios de guerra e 12 embarcações oficiais durante dois dias. O mais preocupante foi a tática empregada: pela primeira vez, ensaiaram a chamada “Tática do Repolho” – um cerco em camadas que bloqueia Taiwan internamente e impede ajuda externa.

Um detalhe significativo foi a participação da Guarda Costeira chinesa, tecnicamente uma força de aplicação da lei, nos exercícios militares. Especialistas classificam isso como “tática de zona cinzenta”, que dificulta a caracterização dessas ações como atos de guerra.

Três cenários possíveis

Analistas militares identificam três cenários principais para um conflito:

1. Bloqueio naval e aéreo Considerado o mais provável a curto prazo. A China poderia implementar um bloqueio apresentando-o como operação de aplicação da lei, com objetivo de estrangular economicamente Taiwan. A vulnerabilidade da ilha é alarmante: Taiwan importa 97% de sua energia, com reservas de apenas cinco meses de petróleo, um mês de carvão e menos de duas semanas de gás natural.

2. Ataques com mísseis Bombardeamentos aéreos contra infraestruturas importantes, usando mísseis balísticos e hipersônicos para destruir defesas e abalar o moral da população.

3. Invasão anfíbia O cenário mais perigoso, envolvendo ataques pelo mar com desembarque de tropas. A China investiu pesadamente nesse tipo de operação, incluindo navios como o Tipo 75, capaz de transportar 30 helicópteros e quase mil soldados.

Taiwan se prepara com estratégia “porco-espinho”

Taiwan não está parada diante das ameaças. A ilha aumentou seus gastos de defesa para 2,45% do PIB em 2025, totalizando cerca de US$ 20,25 bilhões. O Presidente Lai Ching-te pretende elevar essa porcentagem para mais de 3%.

A estratégia militar taiwanesa, chamada de “porco-espinho”, não visa igualar o poder militar chinês, mas tornar uma invasão extremamente cara e difícil. O plano inclui:

  • Defesas costeiras robustas
  • Mísseis móveis difíceis de detectar
  • Drones para vigilância e ataque
  • Produção de cerca de mil mísseis anuais
  • Programa de submarinos próprios (primeiro submarino Hai Kun lançado em 2023)
  • Modernização da força aérea com caças F-16V
  • Aquisição de 29 sistemas de foguetes HIMARS

Impacto global seria devastador

Um conflito no Estreito de Taiwan teria consequências mundiais devastadoras. Taiwan detém posição única na economia global como centro de produção de semicondutores avançados.

A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) sozinha controla mais de 50% do mercado global de chips. Taiwan é responsável por mais de 90% da fabricação dos chips mais sofisticados do mundo, contribuindo com 15% do PIB da ilha.

Especialistas estimam que seriam necessários US$ 350 bilhões e pelo menos três anos para substituir a capacidade produtiva taiwanesa. O Estreito de Taiwan também é rota vital para 44% da frota global de navios porta-contêineres.

Impactos econômicos estimados:

  • Bloqueio chinês: redução de US$ 2,7 trilhões no PIB global no primeiro ano
  • Guerra em grande escala: queda de 5% a 10% no PIB global
  • China também sofreria: queda estimada de 16,7% no seu PIB

Aliados potenciais

Japão: Considera crise em Taiwan como ameaça direta à sua segurança, com US$ 5,5 trilhões em comércio passando pelo Estreito anualmente.

Austrália: Provavelmente participaria de ação militar americana através de sua parceria militar com os EUA.

Coreia do Sul: Adota postura cautelosa, preocupada com possível redução de recursos militares americanos na península coreana.

União Europeia: Reconhece Taiwan como parceiro democrático, mas tem capacidade limitada para enviar forças militares à região.

Quando pode acontecer?

As avaliações variam. Hegseth fala em ameaça iminente, enquanto outros analistas apontam 2027 como momento crítico. Centros de pesquisa consideram invasão improvável a curto prazo, mas preveem aumento significativo do risco a partir de 2027.

Há questões sobre a real preparação militar chinesa, incluindo problemas de corrupção e falta de experiência de combate no Exército de Libertação Popular. Relatórios indicam que até 40% do tempo de treinamento pode ser dedicado à educação política.

Guerra cibernética já em curso

Paralelamente, grupos de hackers chineses já se infiltraram em infraestruturas dos EUA e Taiwan, preparando-se para causar interrupções durante um possível conflito real.

Contradições americanas

Apesar das declarações de apoio, os EUA recentemente retiraram recursos militares da região asiática para outras áreas, incluindo um batalhão de mísseis Patriot enviado ao Oriente Médio.

Taiwan enfrenta atrasos significativos nas entregas de armamentos prometidos pelos EUA, estimados em cerca de US$ 19 bilhões, afetando sistemas essenciais para sua preparação defensiva.


O que está em jogo no Estreito de Taiwan vai além da soberania de uma ilha: trata-se do controle das tecnologias que movem o mundo e das rotas comerciais mais importantes do planeta. A resolução deste impasse definirá a ordem mundial nas próximas décadas.