Nova estratégia francesa pode forçar Putin a escolher entre cessar-fogo na Ucrânia ou colapso econômico
O presidente francês Emmanuel Macron anunciou uma nova estratégia de sanções que pode representar o maior golpe econômico contra a Rússia desde o início da guerra na Ucrânia, há mais de três anos. Diferentemente das sanções convencionais, as chamadas “sanções secundárias” atingem qualquer país ou empresa que mantenha negócios com a Rússia, forçando nações como China e Índia a escolher entre o petróleo russo barato e o acesso aos mercados ocidentais.
Confira nossa análise em vídeo:
O funcionamento das sanções secundárias
As sanções tradicionais impostas pelo Ocidente desde 2022 conseguiram reduzir as receitas russas, mas não impediram que Moscou encontrasse novos compradores. A China aumentou suas compras de petróleo russo em mais de 400%, enquanto a Índia registrou um crescimento de 3.200% nas importações do produto. Ambos os países aproveitam descontos de até 30% oferecidos pela Rússia em relação ao preço de mercado.
A estratégia de Macron muda completamente essa dinâmica. Em vez de mirar apenas a Rússia, as sanções secundárias criam um dilema para os países compradores: continuar importando petróleo russo ou manter acesso aos lucrativos mercados europeus e americanos.
Os números evidenciam o impacto potencial da medida. Em 2023, a China exportou produtos no valor de mais de US$ 560 bilhões para Estados Unidos e Europa, enquanto comprou cerca de US$ 88 bilhões em petróleo russo. A Índia exportou aproximadamente US$ 120 bilhões para o Ocidente e importou US$ 45 bilhões em energia russa.
Impacto na economia de guerra russa
A guerra na Ucrânia custa à Rússia aproximadamente US$ 1 bilhão por dia, financiamento sustentado principalmente pelas receitas do petróleo e gás. Atualmente, a Rússia vende 9,28 milhões de barris por dia, gerando cerca de US$ 3,8 bilhões semanais.
Especialistas estimam que as sanções secundárias podem reduzir essas vendas pela metade rapidamente, já que muitos compradores não arriscariam perder acesso aos mercados ocidentais. A medida também visa o sistema bancário russo, impedindo que bancos em países como Turquia, Emirados Árabes e China ajudem instituições russas a contornar restrições.
Apesar das sanções existentes, os bancos russos lucraram US$ 40,7 bilhões em 2024, operando com taxas de juros de 21%. As novas medidas fechariam esses canais alternativos, isolando ainda mais a economia russa.
Extensão do guarda-chuva nuclear francês
Paralelamente às sanções econômicas, Macron anunciou a disposição de estender a proteção nuclear francesa para outros países europeus. A França possui cerca de 290 ogivas nucleares, tornando-se a terceira potência nuclear do mundo ocidental.
A mudança representa uma ruptura histórica. Tradicionalicamente, a França mantinha suas armas nucleares como assunto exclusivamente nacional, com o presidente francês detendo controle absoluto sobre seu uso. A proposta atual sugere usar o arsenal como “guarda-chuva protetor” para toda a Europa, embora Macron tenha esclarecido que a decisão sobre o uso das armas continuará sendo prerrogativa exclusiva francesa.
Contexto geopolítico mais amplo
A iniciativa francesa ocorre em um momento de transição na segurança europeia. Durante décadas, o continente dependeu quase exclusivamente dos Estados Unidos para proteção militar. Agora, países como Alemanha criaram um fundo de € 100 bilhões para modernizar suas forças armadas, enquanto a Polônia investe mais de 4% de seu PIB em defesa.
A proposta de Macron também visa interromper a cooperação militar entre Rússia e Irã. O regime iraniano tem fornecido drones kamikaze, como o Shahed-136, utilizados em ataques contra infraestrutura civil ucraniana. Em troca, o Irã recebe financiamento, expertise militar e possivelmente tecnologia ocidental capturada.
Reações e perspectivas
O secretário do Conselho de Segurança russo, Sergei Shoigu, criticou Macron por “chacoalhar armas nucleares” e chamou a proposta de ameaça à comunidade internacional. Analistas preveem que Putin pode intensificar exercícios militares e aprofundar alianças com China, Irã e Coreia do Norte.
Surpreendentemente, o ex-presidente americano Donald Trump apoiou a ideia das sanções secundárias após um ataque russo à cidade de Sumy durante o que deveria ser um cessar-fogo da Páscoa. Trump declarou que Putin “estava apenas enrolando” e precisava ser “tratado de forma diferente”.
Cronômetro econômico contra Putin
A Rússia já demonstra sinais de esgotamento econômico, com quase 40% do orçamento nacional destinado a gastos militares e de segurança. O Fundo Nacional de Riqueza do país está se esgotando rapidamente, e analistas estimam que os recursos para sustentar a guerra estarão praticamente esgotados até o final de 2025.
As sanções secundárias podem acelerar esse processo dramaticamente. Especialistas calculam que a Rússia poderia perder até 60% de sua receita petrolífera em questão de meses, forçando Putin a escolher entre continuar a guerra com recursos drasticamente reduzidos ou aceitar termos de paz anteriormente inaceitáveis.
Macron condicionou o não-acionamento das sanções a um cessar-fogo incondicional na Ucrânia, proposta que Putin tem consistentemente rejeitado. A estratégia francesa representa não apenas uma manobra contra a Rússia, mas uma redefinição do poder europeu para as próximas décadas, com a França posicionando-se como guardiã da nova ordem continental.